25 de jan. de 2015

O Papagaio que Pedia Liberdade

("Emprestado" lá do blog Gente Chimarrona...)

O Papagaio que Pedia Liberdade

Esta é a história de um papagaio muito contraditório. Havia já uns tantos anos que esse papagaio vivia em uma gaiola muito cômoda, que o seu proprietário, um tranquilo ancião ao qual o animal fazia companhia, mantinha limpa e com a água e a comida necessárias.
   Certo dia, o ancião convidou um amigo seu à sua casa, para desfrutar de um saboroso chá do Sri Lanka.
   Os dois homens se puseram no salão, sentados bem perto de uma janela, ao lado da qual se encontrava o papagaio em sua gaiola. Logo, quando estavam os dois homens bem acomodados, a tomar o chá, o papagaio começou a berrar, insistentemente:
-- Liberdade, liberdade, liberdade!
   Não parava de pedir pela liberdade... Durante todo o tempo em que o convidado esteve na casa, o animal não deixou de reclamar por liberdade de uma maneira angustiante. Tão angustiante era o seu pedido que o convidado sentiu-se apiedado, e nem mesmo pode terminar de saborear comodamente a sua xícara de chá, decidindo por encerrar a sua visita. Estava ele já saindo porta afora, porém continuava ouvindo os veementes gritos do papagaio:
-- Liberdade, liberdade, liberdade!
   Dois dias se passaram. Aquele que fora o convidado não podia deixar de sentir compaixão pelo papagaio. Mas era tanto o quanto o perturbava o estado daquele pobre animal, que decidiu então que seria necessário pô-lo em liberdade. E ele tramou um plano. Sabia quando o ancião deixava sua casa para ir às compras -- ele ia então se aproveitar dessa ausência e libertar o pobre papagaio de sua triste gaiola.
   E assim o fez. Um dia depois, na hora adequada, o tal convidado pôs-se por perto da casa do ancião, e, quando o viu sair, correu até sua casa, abriu a porta com uma gazua e entrou no salão -- onde o papagaio continuava berrando:
-- Liberdade, liberdade, liberdade!
   Isso partia o coração daquele que fora o convidado. Quem não sentiria pena do animalzinho? De pronto, ele se aproximou da gaiola e abriu a sua portinhola. Então o papagaio, apavorado, pulou para o outro lado da gaiola e, agarrando as barras com seu bico e unhas, bem se recusou a dela sair.
   O convidado foi se afastando, confuso e apiedado. Apesar de ter a portinhola aberta, o papagaio permanecia no fundo da gaiola, já se aquietando; de quando em vez, porém, continuava resmungando:
-- Liberdade, liberdade, liberdade...

Assim como esse papagaio, são muitos os seres humanos que dizem querer a liberdade -- os quais, todavia, acostumaram-se de tal maneira à sua gaiola que, na realidade, têm medo de abandoná-la...


Conto de origem desconhecida
(Em uma versão das Edições Natura naturans)