8 de mar. de 2014

Feminismo? Caridade?

Você já ouviu falar em Maria Lacerda de Moura?
Essa escritora anarquista brasileira, nascida em 1887 e falecida em 1945, parece escrever nos dias de hoje... É assim que começa, por exemplo, o seu pequeno mas intenso artigo "Feminismo? Caridade?" (que encontramos na Revista Utopia n° 9):

"A palavra 'feminismo', de significação elástica, deturpada, corrompida, mal interpretada, já não diz nada das reivindicações feministas. Resvalou para o ridículo, numa concepção vaga, adaptada incondicionalmente a tudo quanto se refere à mulher. Em qualquer gazela, a cada passo, vemos a expressão 'vitórias do feminismo' – referente, às vezes, a uma simples questão de modas! Ocupar uma posição de destaque em qualquer repartição pública, cortar os cabelos 'à la garçonne', viajar só, estudar em academias, publicar um livro de versos, ser 'diseuse', divorciar-se três ou quatro vezes, pelas colunas do 'Para Todos', atravessar a nado o Canal da Mancha, ser campeã de qualquer esporte. – tudo isso consiste 'nas vitórias do feminismo', vitórias que nada significam perante o problema da emancipação integral da mulher."
O artigo segue com pequenas divisões que levam estes subtítulos: 

A verdadeira emancipação é posta de lado / A solução para os problemas humanos não é a caridade / Gastam somas fabulosas com a construção de igrejas e exploram torpemente os criados / Chora ante o "écran" do cinema e fica impassível ante as injustiças sociais / Civilização de protetores e protegidos / Adormecida dentro dos trapos / Divertimentos à custa da dor / As várias superstições / Religiões - instrumentos de explorações dos incautos / Representação parlamentar: circo de cavalinhos / Feminismo de votos e feminismo de caridades

Vale mesmo procurar informações sobre essa escritora brasileira, hoje quase esquecida, mas que chegou a ser internacionalmente conhecida por seu ativismo e por sua obra.

Curiosidade: a banda gaúcha de punk rock Os Replicantes, em seu álbum 2010, gravaram uma faixa que se chama "Maria Lacerda", em homenagem à Maria Lacerda de Moura: